A agressividade infantil é um assunto bastante amplo e podemos notar suas raízes desde o início das relações das crianças ainda na educação infantil.
Precisamos inicialmente, discernir o que é inerente a determinada faixa etária ou sexo e o que está fora dos padrões esperados pelos mesmos.
Segundo a teoria piagentiana podemos classificar o desenvolvimento cognitivo em diversas etapas. Na educação infantil, passamos basicamente por duas delas: Sensório-motora que vai do nascimento aos dois anos de idade. Nesta fase a criança se utiliza basicamente dos sentidos para conhecer o mundo. Tudo aqui acontece por reflexos e a criança leva tudo à boca; Pré-operatória que vai dos 2 aos 7 anos onde a criança começa a adquirir noções de tempo, espaço. Ainda não há raciocínio lógico e as ações para ela ainda são irreversíveis.
Uma criança que morde o amiguinho até dois anos de idade, não pode ser rotulada como agressiva. Ela ainda não sabe usar a linguagem verbal e a linguagem corporal acaba sendo mais eficiente. A criança nesta fase, é egocêntrica e acredita que o mundo funciona e existe em função dela. Uma das primeiras maneiras de relacionamento é a disputa por objetos ou pela atenção de alguém querido – como a mãe, o pai ou o professor. A intenção da criança, ao morder ou empurrar, é obter o mais rápido possível aquele objeto de desejo, já que não consegue verbalizar com fluência. Esta fase de disputa é natural e quanto menos ansiedade for gerada, mais rápida e tranqüilamente será transposta. É claro que o adulto não deve apenas assumir a postura de observador e sim, interferir quando necessário, evitando que se machuquem, e explicando que a atitude não é correta. Enfim, impondo limites! Porém não devem supervalorizar a agressão, pois as crianças ainda não conseguem entender que estão machucando.
A agressividade pode ser hostil, com a intenção de machucar ou ser cruel com alguém, seja física ou verbalmente. Ou ainda pode aparecer com o intuito de conquistar uma recompensa, sem desejar o mal do outro.
A agressividade aparece ainda em reação a uma frustração. Birras, gritarias e chutes. Comportamento comum, porém necessário ser amenizado até extinguido mais uma vez explicando à criança que não é um comportamento adequado.
Outro aspecto fundamental ao desenvolvimento de comportamento agressivo é o meio ambiente em que a criança está inserida, família, escola e estímulos recebidos por meios de comunicação. Há, lógico ainda, fatores individuais, inatos como sexo e hereditariedade.
É essencial saber discernir quando um comportamento agressivo é passageiro, por motivos temporários, como o nascimento de um irmãozinho, a hospitalização ou perda de um ente querido, ou ainda por mudança de casa ou escola ou se pode ser considerado como um transtorno de conduta, caso em que é necessário um acompanhamento de especialista para auxiliar a sanar o problema. Se não dermos a devida importância nesta fase essas atitudes poderão evoluir de forma prejudicial na adolescência e vida adulta, podendo transformar a criança em agente ou alvo de Bullying, que veremos mais à frente.
A diferença de sexo também pode indicar um aspecto da agressividade. Diversas pesquisas apontam para uma capacidade precoce das meninas, em relação aos meninos para adaptarem-se em grupo e socializarem-se com maior facilidade. Meninos tendem a apresentar mais problemas para adaptação social.
Por volta dos três anos, as crianças já acrescentaram milhares de palavras ao seu vocabulário e começam a descobrir o prazer em brincar com o outro e se comunicar. O egocentrismo começa a sair de cena e começa a socialização. Nesta fase, o comportamento agressivo intencional, ainda aparece esporadicamente e via de regra, não apresentam uma continuidade. Já aos quatro, cinco e seis anos identificamos alguns comportamentos de discriminação que podem ter repetidamente o mesmo alvo. Aparecem os conflitos, “panelinhas”, provocações e humilhações. É aqui que pais e educadores devem estar atentos para poder inibir esse comportamento antes que ele se instale e seja mais difícil de eliminá-lo.
Um caso típico, citado em artigo de Antônio Gois e Armando Pereira Filho para a Folha de São Paulo, é o de um menino de 4 anos que era tímido e falava pouco. Os coleguinhas e a própria professora “brincavam” dizendo que ele havia perdido a língua. Isso causou um bloqueio na fala e desenvolvimento da linguagem da criança.
Precisamos também diferenciar as vivências que a criança tem na família e as que tem na escola, onde ocorrem geralmente os comportamentos agressivos. Em casa, via de regra, a criança é sempre querida, amada e compreendida, o que não acontece no convívio social onde precisa conquistar os amigos e inserir-se no grupo.
Muitas crianças recebem apelidos relacionados a aspectos físicos e desempenho (gordinho, vara pau, zarolho, burro, chato, etc). Aqui o papel do professor é essencial ao identificar e trabalhar com esses aspectos evitando que se repitam. A dramatização é uma ferramenta excepcional para fazer com que as crianças vivenciem papéis. Essencial ainda é discutir sempre as experiências depois de dramatizadas. Criar regras elaboradas em conjunto também é uma ferramenta eficiente. Quando as próprias crianças criam as regras elas ganham um significado maior e têm um grande impacto nas ações. Deve-se também trabalhar valores morais éticos como solidariedade, compartilhamento, cooperação, amizade, reciprocidade dentre outros. Se o professor cria um ambiente com atividades prazerosas durante todo o período de aula, a probabilidade de que comportamentos agressivos surjam é muito menor.
Lembre-se: a agressividade só deve ser tratada como um desvio de conduta quando ela aparecer por um longo período de tempo e também se não estiverem ocorrendo fatos transitórios que possam estar causando os comportamentos agressivos.
É preciso observar, tirados aspectos transitórios, se a criança:
- Sempre teve, por parte da família a realização de todas as suas vontades, fato cada dia mais comum, quando ambos pais trabalham fora e sentem-se culpados por ter pouco tempo disponível para o filho e acabam “tentando” suprir esta lacuna com permissividade excessiva, sem impor limites.
- É muito exigida e pouco elogiada. A criança acaba perdendo parâmetros, pois mesmo fazendo o máximo para acertar, ainda é pouco para o grau de exigência dos pais ou professores.
- Tem dificuldades em relacionar-se com outras crianças, mantendo-se afastada do grupo. Foi vítima de alguma agressão ou abuso sério.
A personalidade da criança forma-se até os seis anos de idade e por isso, toda experiência e sua qualidade vividas nessa fase é de fundamental importância. Por mais que, às vezes, possa parecer ineficaz, elogio, afeto, prazer e compreensão tem resultados muito mais rápidos e menos estressantes do que bronca, castigo, sofrimento e indiferença.
É muito importante detectar e combater o comportamento agressivo ainda na primeira infância, pois quando criança não encontra obstáculos ou alguém que a alerte mostrando que não é um comportamento adequado, ela percebe que consegue liderar e tirar proveito destas situações e no futuro certamente tornar-se-á um agente do bullying e muito provavelmente um adulto violento.
E afinal, o que é bullying?
Bullying é um tipo de comportamento que sempre existiu, e que recentemente foi batizado com um nome. Não existe uma tradução precisa para o português. Refere-se a todo tipo de comportamento agressivo que ocorre sem nenhuma razão aparente.
Muito provavelmente você já tenha sido alvo de bullying quando era pré-adolescente ou adolescente. Ações repetitivas e desequilíbrio emocional são as suas principais características.
A primeira dificuldade que os pais enfrentam é identificar se seu filho está sendo alvo deste tipo de comportamento, pois há criança que se sente ameaçada e reluta para falar a respeito disso.
Preste atenção nas ações que os bullies (quem pratica o bullying) costumam praticar:
Colocar apelidos depreciativos | Assediar |
Ofender | Amedrontar |
Fazer “gozações” | Ameaçar |
Humilhar | Agredir |
Criar situações para “pegar” a “vítima” | Bater |
Discriminar | Empurrar |
Excluir | Machucar |
Isolar | Intimidar |
Perseguir | Desprezar |
Sinais que podem indicar que seu filho está sendo vítima. Se ele...
Chega em casa com contusões freqüentes | ”Perde” dinheiro com freqüência |
Chega em casa com roupas rasgadas | Briga constantemente com amigos considerados “próximos” antes |
Diz que precisa de algo porque perdeu ou foi roubado | Está com péssimo humor |
Fica quieto e retraído | É agressivo com os irmãos |
Evita sair de casa | Não se dedica como antes aos estudos |
Tem insônia | Demonstra ansiedade excessiva |
Porém, os pais devem ter cuidado para não expor seu filho perante os outros. Se eles tomarem o caminho errado as ações dos bullies podem piorar. Lembre-se: Não é possível estar presente e supervisionar seu filho o tempo todo.
Bullying é um problema mundial. Pode-se identificar o problema em todos os níveis escolares, da educação infantil à faculdade, em escolas privadas ou públicas, rurais ou urbanas.
O que mais assusta é que as proporções que o problema tem tomado são cada vez mais preocupantes. Hoje é comum ouvirmos relatos de adolescentes que chegam a atos extremos por discordar de posturas e valores dos colegas de classe.
Alvos do bullying -> Estudantes que sofrem as agressões.
Alvos ou agentes do bullying -> Estudantes que às vezes sofrem e outras vezes praticam o bullying.
Bullies -> Estudantes que somente praticam o bullying.
Testemunhas oculares -> Estudantes que não praticam e nem sofrem o problema, mas vivem no mesmo ambiente onde o fato ocorre.
A criança ou adolescente sente vergonha e medo. Porém, não podemos tratá-los como “coitadinhos”, sem tentar saber se eles têm uma certa dose de responsabilidade sobre o comportamento que está sofrendo.
Às vezes, a criança não tem limites, é muito mimada, egoísta ou excessivamente agressiva. Desta forma, é difícil integrá-la ao grupo. Porém, é possível ajudar a criança a enfrentar o problema, modificando sua postura, ou ainda a linguagem corporal. Ela deve demonstrar confiança. Se ela normalmente não o é, pelo menos tentar demonstrar. Certamente se sentirá melhor. Diga para que olhe sempre para cima, nunca para o chão. Desta forma certamente deixará os bullies longe dela.
O que as escolas podem fazer:
Nas escolas de educação infantil e ensino fundamental, os professores e supervisores podem e devem ficar atentos nas atividades em parques e intervalos assegurando-se de que nenhuma criança está sendo excluída ou humilhada. A direção da escola pode e deve chamar a atenção de alunos que estejam praticando algum ato ofensivo ou preconceituoso e alertar também seus pais.
Promover ações do tipo:
- Jogos cooperativos
- Atividades de inclusão. Mixando sempre os grupos, evitando as “panelinhas”
- Palestra a respeito de boas idéias de como trabalhar em grupo.
- Mostrar reportagens a respeito das conseqüências sofridas pelos bullies nas mais diversas situações.
No Brasil, o Bullying aparece em uma proporção pequena se comparada a países com os Estados Unidos e Inglaterra onde o assunto ganha um debate intenso e onde casos graves são constantemente relatados. Os Estados Unidos apontam o bullying como razão do episódio da morte de treze estudantes da Columbine’s scholl em Littleton em 1999. O mais recente caso aconteceu no último dia 28 de setembro, quando um adolescente, afirmando que se sentia diferente dos outros,matou 3 colegas e feriu outros 7 em uma escola em Carmen de Patagones, na Argentina
Para tentarmos resolver este preocupante problema é necessário um trabalho em conjunto – Família, aluno, escola e comunidade.